STEINBEIS-SIBE do Brasil | Inovação: a Arte no Design de Projetos
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Inovação: a Arte no Design de Projetos

Inovação: a Arte no Design de Projetos

Design de projetos: o conceito pode parecer algo distante, a ser compreendido apenas por quem trabalha diretamente com ele. Mas é aí que está o pulo do gato. Como já discutimos em outra ocasião , muito do que usamos em planejamento e na construção de projetos se entremeia em nosso dia a dia; atos intuitivos, ou ao menos muito familiares, que quando formalizados se mostram etapas fundamentais de processos mais complexos.

Um exemplo? Inspiração. Não se engane: a tal da inspiração não é um afã criativo sem propósito. Quando direcionada de maneira própria, ela vem para resolver um problema, uma falta; se falamos de inspiração artística, existe uma demanda, seja ela sentimental ou mesmo existencial, que precisa ser expressa, solucionada. Se formos a fundo, entre profissionais, temos uma cuidadosa análise do que o público espera, até mesmo exige.

Outra ideia que já está entranhada em nossas veias? Tentativa e erro. Somos cautelosos por natureza, imbuídos com o instinto de testar a água com a ponta dos dedos antes de mergulharmos de cabeça. Quando temos a oportunidade, medimos a viabilidade de nossos sonhos e ideais por meio de testes – e se isso já é comum entre indivíduos, torna-se absolutamente vital para empresas.

Agora que a familiaridade desses conceitos está um pouco mais clara, fica fácil entender como eles se tornaram exposições Em Santiago do Chile. De um lado, o Centro Cultural Gabriela Mistral – GAM abriu as portas para a exploração das semelhanças entre processos criativos, sejam eles mais artísticos ou mais voltados para aplicações de natureza prática, na exposição “Caja Negra”; do outro, no Centro Cultural La Moneda, a exposição “Prototipos” se debruçou sobre projetos de inovação de pequenas e médias empresas da região, todas tendo o elemento madeira como ponto comum. E é sobre esse universo que vamos nos debruçar agora.

 

A caixa preta de Pandora

“Na Caja Negra, o que tentamos fazer é mostrar o processo de criação para, assim, estabelecer um vínculo entre cidadania e criação”, diz Carmen García, diretora executiva da Fundação Plagio. Reunindo trabalhos de artistas dos mais diversos ramos, a exposição estabelece, por meio do diálogo claro entre as obras, uma lógica: por mais variados que sejam os caminhos, existe um ponto comum entre todas as vertentes de processos criativos. O conceito não se limita ao meio artístico, fique claro. Todo profissional é chamado a ser criativo em algum momento; a bem da verdade, todo indivíduo é, seja qual for a etapa da vida. Alguns se isolam, alguns buscam inspiração em referências, mas a questão fundamental é que criar, em última instância, resume-se a entender uma falta e, por fim, fazer uma série de escolhas que permitam dar fim a ela.

Mesmo com sua vertente artística, a exposição é um paralelo claro ao processo de transição entre o que entendemos por exploração e ideação, partes fundamentais da criação. A exploração trata justamente da falta: é quando buscamos desenvolver uma compreensão dos anseios de nossos clientes, independentemente de qualquer outro fator; aqui não permitimos que viabilidade técnica ou econômica, ou qualquer outro problema, fique em nosso caminho. O importante é compreender o que se deseja – o que podemos, mesmo que de forma limitada, cobrir. Essa busca é uma constante no processo criativo, tocando desde artistas incansáveis até designers de projeto.

A ideação, por sua vez, abraça nossas limitações. Se o céu era o limite na etapa anterior, agora começa o processo efetivo de construção de algo, o que pressupõe limitações. Questionamos cada ponto, contestamos tudo – não raro, esse é o ponto de crise para o criativo, que acaba preso nesses questionamentos. O ponto-chave aqui, de toda forma, são as escolhas. Observamos um conjunto de ideias, esmiuçamos seus pormenores, exaurimos tudo aos mínimos detalhes… E enfim selecionamos o que nos parece ser a solução para essa falta detectada, na medida do que podemos oferecer.

Mas agora que temos uma ideia, como torna-la real?

 

A construção da inovação

Inovar está ao alcance de todos. Esse preceito fica absolutamente claro com a exposição “Prototipos – Procesos de Innovación”, cujo olhar se volta para os processos de pequenas e médias empresas, muitas vezes com um toque artesanal. A mostra reúne os resultados de um projeto que teve por objetivo justamente difundir a cultura da prototipagem entre essas empresas que produzem toda sorte de produtos em madeira, na reigão do Biobío. Por meio desse programa, os protótipos foram incorporados ao trabalho já tradicional, em um esforço conjunto de empresários, funcionários de designers. As propostas resultantes tinham algo em comum: todas traziam alguma espécie de inovação frente a desafios como processos de fabricação arraiados a esquemas produtivos locais, ausência de metodologias ligadas ao design e à fabricação e, acima de tudo, o receio de abraçar riscos que não compensassem.


Inovação, para essas empresas, não é questão de luxo, de se firmarem como pioneiras em seu setor; não existem aqui milhões a serem investidos em pesquisa de ponta. Para esses empresários, inovação é sinônimo de sobrevivência. É a maneira como podem se manter relevantes, mesmo quando a competição por uma fatia de mercado se torna mais e mais acirrada.

O projeto que deu origem à exposição é fruto de uma iniciativa do governo chileno – mais especificamente, a Corporación de Fomento de la Producción – CORFO, que se dedica não apenas ao desenvolvimento de empresas no âmbito da produção; à CORFO, é fundamental o desenvolvimento do capital humano e de processos de tecnologia. É mais do que condizente, portanto, que essa instituição busque incentivar um caminho de inovação para pequenos e médios produtores do país.


Os resultados, expostos na mostra, exemplificam de forma clara como a inovação pode se manifestar em detalhes – e mesmo assim, já faz toda a diferença: barcos a remo, para quatro passageiros, pensados especificamente para aproveitar melhor o espaço interno, incorporando tecnologias digitais e até mesmo projetados de forma que os navegantes possam manter seus pés na água; tudo para oferecer um contato mais revigorante com a natureza. Outra empresa apresenta pisos e decks de madeira para espaços externos; com um sistema inovador de instalação, conseguiram se firmar como competidores em um mercado normalmente dominado pela cerâmica e outros pisos frios. Outro exemplo simples, mas que fala diretamente com a cultura chilena, é o de tinas de madeira: com as baixas temperaturas do inverno local, essas tinas são muitas vezes usadas quase que como uma sauna – mergulha-se em água quente por algum tempo para relaxar e manter o corpo aquecido. E quando se fala em relaxar, nada melhor do que um design pensado para acomodar melhor as curvas do corpo, mais anatômico; essa foi a inovação trazida por esse fabricante. E essas eram apenas algumas das peças expostas; a exposição ainda trazia móveis, brinquedos e outras ideias.

Acima de tudo, “Prototipos” mostra a gana de transformar aquilo que foi concebido em algo não apenas concreto, como também técnica e economicamente viável. Em duas exposições, três conceitos fundamentais da etapa de design no desenvolvimento de projetos: exploração e ideação, onde se busca entender a problemática e as necessidades; e enfim a proposta de solução prototipada, que permite a experimentação até que se chegue ao modelo a ser trabalhado. A lição que fica é que estes conceitos estão muito mais próximos de nós do que podemos pensar à primeira vista.

 

 

Crédito imagens: http://www.lignum.cl

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